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EVANGELHO QUOTIDIANO

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

"Nós pregamos um Messias crucificado”. (Cor 1, 22-23) I

1ª parte
Introdução

“Falar sobre a cruz de Cristo!”. Não é propriamente fácil abordar um tema onde teólogos e pensadores de todos os quadrantes já discorreram rios de tinta imprimindo milhares de livros, artigos, e até teses de doutoramento sobre o fim-de-semana mais marcante da história da humanidade.

Este é dos temas que se pode abordar de muitas formas, porque a cruz é chave ou lente por onde se lê toda a História da Salvação. Pois, a cruz é a maior provocação à história e à lógica humana!
Opto pela perspectiva da dupla dimensão que a cruz nos apresenta, verticalidade e horizontalidade, a partir de dois textos de Paulo: Filipenses 2, 1-11 e Coríntios 1, 17-31:
Perspectiva vertical: relação de Jesus com Deus e de Deus Pai com Jesus.
Perspectiva horizontal: relação de Jesus com a humanidade e da humanidade com Jesus.
Termino com algumas considerações finais actualizando, tanto quanto possível, o mistério da Paixão de Cristo: qual é o lugar da cruz, na vida concreta das pessoas?

Antes de mais nada, existe uma inquietante questão que necessitamos encontrar resposta: Porque mataram Jesus? Se Ele só fez o bem, se Ele era tão bom, porque quiseram exterminá-lo? E de forma tão brutal?
A morte de Jesus não pode ser entendida sem olharmos a sua vida; por sua vez, a sua vida não é compreensível sem Aquele para quem Ele vivia, ou seja, o Pai do Céu. Por outras palavras, é a sua vida e a forma como viveu que dá sentido último à sua morte.
Jesus é condenado e morto na cruz por aqueles que não só queriam a sua morte, mas principalmente, desejavam o extermínio do Deus que Jesus apresentava.
Cristo aposta toda a sua vida mostrando-se sempre livre e fiel ao Pai de Céu: usando de Misericórdia e Amor para com todos. Relembra aos poderosos do seu tempo, as palavras da Escritura: “Ide aprender: Eu quero a Misericórdia e não sacrifícios”.
É bem verdade que certos relatos do NT apoiam a morte de Jesus na perspectiva sacrificial, ou seja, era necessário o sacrifício, o derramamento do seu sangue na cruz para que Deus perdoasse os nossos pecados, daí algumas expressões: “Cordeiro pascal imolado” (Cor 5, 7), “Cordeiro reconciliador” (Ap 5, 9), “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, nas palavras de João Baptista. À semelhança dos sacrifícios antigos o sangue de Cristo derramado na cruz selaria a nova aliança entre Deus e os homens, para o perdão dos pecados (Mt 26, 28; Mc 14, 24; Lc 20, 20).
Podemo-nos interrogar: Será que Jesus salvou-nos só pelo seu sofrimento? Penso que não! O que nos salvou foi toda a pessoa de Jesus Cristo: desde a encarnação à cruz, ou seja, toda a sua coragem, todo o seu compromisso, todas as suas opções é que nos salvaram no passado, e nos salvam no presente.


Escutemos agora as palavras de Paulo:
Fil 2, 3-11: Ter os mesmos sentimentos em Cristo Jesus
“3Nada façais por ambição, nem por vaidade; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós próprios, 4não tendo cada um em vista os próprios interesses, mas os interesses dos outros. 5Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus:
6Ele, que é de condição divina, não considerou como uma usurpação ser igual a Deus;
7no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo.
Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, 8rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.
9Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome, 10para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra; 11e toda a língua proclame: "Jesus Cristo é o Senhor!", para glória de Deus Pai.”

Constatamos à primeira vista que Paulo, utilizando um cântico muito antigo da liturgia cristã primitiva, apresenta a Paixão de Jesus como uma descida até à cruz; verificando-se uma subida gradual até à exaltação em Deus. Isto retrata o movimento da vida de Jesus: Fidelidade até ao fim e até às últimas consequências, por isso, Deus o exaltou!

A lógica da kénosis, ou seja, do despojamento é da doação plena, da entrega, da gratuidade absoluta do amor no qual Jesus anula o próprio ser para que, tomando sobre si todo o mal, todos sejam tudo no espaço aberto desse divino auto-despojamento.

Aqui não se trata de um Deus que, sendo tudo, se faz nada, para que em si tudo seja possível, ou seja libertando-nos do pecado e da morte, mas antes um Deus que, nunca fica refém da glória dos nossos superlativos, ou dos nossos esquemas mentais. O despojamento de Jesus é o convite, sempre actual, ao desafio máximo de potenciação e superação de cada ser humano, levando-nos ao limite das nossas forças e experimentando a maravilha da entrega, do serviço, da paixão, do amor pelo ideal do Reino.

Jesus na cruz revela um Deus que manifesta-se às avessas e é só nessa lógica que podemos entender as Bem-aventuranças: Dois contrários absolutos unidos e com o sentido de rev“os pobres em espírito”!elar ao ser humano o caminho da felicidade. Sem a lógica da cruz e da entrega nunca entenderíamos essa lógica.

Cor 1, 17-31: Sabedoria do mundo e loucura da cruz
“17Na verdade, Cristo não me enviou a baptizar, mas a pregar o Evangelho, e sem recorrer à sabedoria da linguagem, para não esvaziar da sua eficácia a cruz de Cristo. 18A linguagem da cruz é certamente loucura para os que se perdem mas, para os que se salvam, para nós, é força de Deus. 19Pois está escrito: “Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes.” 20Onde está o sábio? Onde está o letrado? Onde está o investigador deste mundo? Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? 21Pois, já que o mundo, por meio da sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem, pela loucura da pregação. 22Enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, 23nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. 24Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. 25Portanto, o que é tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte que os homens. 26Considerai, pois, irmãos, a vossa vocação: humanamente falando, não há entre vós muitos sábios, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. 27Mas o que há de louco no mundo é que Deus escolheu para confundir os sábios; e o que há de fraco no mundo é que Deus escolheu para confundir o que é forte. 28O que o mundo considera vil e desprezível é que Deus escolheu; escolheu os que nada são, para reduzir a nada aqueles que são alguma coisa. 29Assim, ninguém se pode vangloriar diante de Deus. 30É por Ele que vós estais em Cristo Jesus, que se tornou para nós sabedoria que vem de Deus, justiça, santificação e redenção, 31a fim de que, como diz a Escritura, aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.”


As ideias de Paulo sobre a cruz oferecem-nos uma abordagem totalmente nova sobre o rosto de Deus revelado por Jesus.
O que é que cruz nos diz a respeito de Deus?
Se é verdade que Jesus é que salva, não é menos verdade que só a cruz tem o poder de nos fazer ver como!? A cruz de Cristo continua ser o maior tesouro e esperança para a Igreja.

Deus age de forma oposta, à lógica que a humanidade espera de um Deus omnipotente: cria, a partir do nada; ganha, quando perde; sendo Deus, faz-se carne; faz das cinzas do pecado, os ramos festivos da graça; quando nos sentimos fracos, aí é que somos fortes; faz dos últimos os primeiros; transforma as sextas-feiras de paixão e luto em domingos de Páscoa e Ressurreição! A cruz esvazia-nos do vão orgulho das nossas boas obras, para que possamos confiar unicamente na força da Páscoa de Cristo!
Deus recusa regatear a sua graça com a humanidade, evitando assim qualquer tipo de orgulho espiritual pelo cumprimento ético das obras da Lei.

A loucura da Cruz é a loucura de um Deus que se entrega não só à morte mas, no contexto do mundo antigo, à mais cruel e “escandalosa” das mortes, assumindo e comungando o destino dos mais malvados dos homens. O que, no contexto da religião hebraica, aquele que declaravam “maldito de Deus” era apedrejado até à morte e depois “suspenso a uma árvore”. Dt 21, 22-23.

A cruz não apresenta somente um Deus derrotado e humilhado, mas revela todo o seu amor vulnerável, gratuito e absolutamente redentor pela humanidade. Isto em nada diminui a sua glória, porque Ele mostra que é Deus sendo poderoso na fraqueza, glorioso na humilhação, eterno no tempo, destruindo de uma vez por todas, a loucura humana do pecado e morte.

Não é suficiente saber que Jesus venceu a morte, mas saber se a sua cruz é suficiente para vencer as nossas mortes!
Não é suficiente saber que Cristo nos salvou, nos libertou, mas se vivo ou não, como salvo por Jesus!
Só os acontecimentos da Paixão de Jesus nos podem fazer entender um Deus que aceita um pecador como filho muito amado. É exactamente por este motivo que posso ter a confiança absoluta no amor de Deus, mesmo que perca a confiança em mim próprio!
As pessoas do nosso século gostam de viver cada minuto no limite e na intensidade da vida, como se não existisse amanhã, nem a virtude da esperança proporcionasse um horizonte transcendente; daí resulta do medo que sentem pela sua vida poder não vir a ter qualquer propósito ou sentido, gerando nelas uma ansiedade e angústias existenciais onde desembocam as neuroses e psicoses próprias do nosso tempo.

Os cristãos do nosso tempo ostentam orgulhosamente ao peito uma cruz como amuleto e vivem muito distantes daquilo que aquela representa: a doação, a entrega e do dom total da vida por amor, por fidelidade, por obediência a opções realizadas anteriormente.

Num tempo em que adoramos um “deus à la carte”, uma espécie de de “fast food” do colonialismo americano da McDonald’s, Jesus apresenta-nos a nudez e a crueza de uma vida doada por Amor e por fidelidade à sua missão e aos princípios inegociáveis do Reino.

Este trabalho foi feito e apresentado pelo Pe. Paulo Borges, aquando da visita da Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude a São Miguel Açores, no passado dia 19 de Agosto, numa conferencia realizada no Mosteiro Nossa Senhora das Mercês (Irmãs Clarissas) na Freguesia das Calhetas no Concelho da Ribeira Grande.

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