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EVANGELHO QUOTIDIANO

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

MARIA MADALENA, quem és tu?


Testemunha privilegiada da Ressurreição de Jesus Cristo
O imaginário da nossa cultura religiosa costuma apresentar Maria Madalena com roupas provocantes e o cabelo solto (próprio de mulheres levianas), ajoelhada junto à cruz ou devotamente prostrada aos pés de Jesus. Porém, quem se puser à procura dessa “Madalena pecadora”, no Novo Testamento (NT), com certeza que não a encontrará.

Maria Madalena é a mulher mais presente, simpática e misteriosa do NT. O seu nome significa: Maria, “bela”, e Madalena, habitante de “Magdala” que era uma povoação junto ao lago da Galileia, situada cerca de 5 km a norte da cidade de Tiberíades [nome atribuído em honra do imperador Tibério César].

“Magdala”, vem de “Migdal Nunayah” significa “torre”; o seu nome, em grego, é Tariquea designa “pesca segura”; De facto, neste lugar a pesca era a actividade dominante, no séc. I. (Fávio Josefo, Guerra dos judeus 2, 1; 3, 9.7-3, 10.15).

Sabemos que as povoações da Galileia ofereceram grande oposição aos romanos, mas apesar das suas fortificações Magdala foi conquistada pelo general Vespasiano em 66 d. C. Segundo descobertas arqueológicas recentes Magdala, longe de ser uma pequena povoação sem importância, possuía estradas calcetadas, um hipódromo, um grande pórtico de entrada e uma sinagoga, onde foi encontrada uma enorme pedra de altar quadrangular, com a “Menorah” (o candelabro dos 7 braços) esculpida, tratando-se da mais antiga inscrição encontrada até hoje.

Note-se que Magdala situa-se a 7 quilómetros de Cafarnaum, onde Jesus se estabeleceu durante a sua vida pública, o que nos pode levar a crer que, possivelmente, terá conhecido muito bem esta povoação e pregado na sua sinagoga.

“Maria” era dos nomes femininos mais comuns entre os judeus, porque a irmã de Moisés tinha esse nome (Ex 15, 20) e, provavelmente, gostariam de ter uma “Maria” na família. O NT menciona sete mulheres com este nome: Maria, a mãe de Jesus; Maria de Magdala; Maria de Betânia; Maria de Clopas; Maria, mãe de Tiago o Menor e de José; Maria, colaboradora de Paulo (Rom 16, 6) e Maria, mãe de João Marcos (Act 12, 12).

Constatamos que de acordo com a cultura patriarcal daquela época as mulheres tinham um indicativo de submissão, por exemplo: “mãe de…”, “mulher de…”, “filha de…”. Tal como o caso curioso da “mãe dos filhos de Zebebeu”, como se “os filhos de Zebebeu” também não fossem dela! Ora, Maria Madalena é referida com o seu nome próprio, sem ligação a qualquer homem. Isso indica que ou era de origem social elevada e, vivendo em ambiente helenista, tinha maior independência familiar ou, simplesmente, era solteira, viúva ou repudiada, dedicando a sua vida ao Mestre Jesus, como discípula fiel.

A sua fama entrou na devoção dos cristãos que chegou mesmo a ser considerada a “Apóstola dos Apóstolos”; pois até, no séc. XIII, chegou a ser fundada uma ordem religiosa denominada de “Madalenas”.

O nome de Maria Madalena aparece 12 vezes, em cinco episódios distintos:

1. A meio do evangelho de Lucas (Lc 8, 2-3);

2. Na crucifixão de Jesus (Mt 27, 56; Mc 15, 40; Jo 19, 25);

3. Na descida de Jesus da cruz (Mc 15, 47);

4. Junto ao sepulcro, na manhã de Páscoa (Mt 27, 61; Mt 28, 1; Mc 16, 1; Lc 24, 10);

5. Aparição do Ressuscitado (Jo 20, 1-18);

Três equívocos que provocaram grandes injustiças:

1. Os pés lavados com as lágrimas

Lucas 7, 36-50 apresenta Jesus em casa do fariseu Simão, na Galileia, a tomar uma refeição. Aparece uma mulher, pecadora pública, que se atira aos pés de Jesus, começa a chorar e depois enxuga-os com os cabelos; em seguida, beija os pés de Jesus e unge-os com perfume. Já se especulou muito sobre o que terá motivado aquela mulher a agir daquela maneira, ou seja, a realizar um gesto tão íntimo e pessoal. No entanto, para além de afirmar que O conhecia, ou seja, já tinha ouvido falar dele, o texto não nos permite ir mais além, porque aquela mulher não diz qualquer palavra em toda a narração. Apenas Jesus defende-a, contra as expectativas farisaicas de Simão, porque o seu gesto revelou gratidão, humildade e amor ao Mestre.

Imediatamente a seguir a este episódio, Lucas refere o nome de Maria Madalena, pela primeira vez no seu evangelho (8, 2), acrescentando-lhe “de quem tinha saído sete demónios”. Daí que foi muito fácil associar a “mulher pecadora” à “mulher endemoninhada”, que Jesus teria curado, anteriormente.

2. A confusão das três mulheres:

Após terem associado Madalena à prostituta pública, caiu-se numa nova confusão. No final do evangelho de Marcos (14, 3-9) conta-se que Jesus estava em Betânia, à mesa de Simão, o leproso, e outra mulher (a terceira) aproximou-se de Jesus, partiu um frasco e derramou o seu perfume, muito caro, sobre a cabeça de Jesus Cristo.

As três mulheres: Maria Madalena, de quem tinha saído sete demónios, a pecadora pública anónima e a mulher de Betânia, passaram a ser uma só! Como? Vejamos: De facto, a mulher (segundo Marcos) aparece fazendo quase o mesmo que a pecadora (de Lucas); isso, levou João a pensar que se tratava da mesma pessoa: Maria Madalena; ainda por cima, identificou-a com Maria, irmã de Lázaro e Marta de Betânia. Se compararmos Jo 12, 1-8 com Jo 11, 2 reparamos que o evangelista refere, no capítulo 11, um episódio que só narrará no capítulo seguinte, unindo na mesma pessoa (Madalena!) a pecadora de Lc 7, com Maria de Betânia, irmã de Lázaro. A partir daí a tradição associou Madalena com a Samaritana dos seis maridos (Jo 4) e até com a adúltera apanhada em flagrante (Jo 8). Apesar de Sto Agostinho, Sto Ambrósio e Sto Efrém (séc. IV) oporem-se a estas identificações, foi o papa Gregório Magno (séc. XI) que sancionou para a história tal identidade, defendendo que as três mulheres eram uma só.

Síntese: Lucas fala de Maria Madalena (a dos sete demónios) logo após ao episódio da pecadora pública (sem referir o seu nome) que banha os pés de Jesus com lágrimas, enxuga-os com os cabelos e beija-os. Em Marcos e Mateus verifica-se que a unção foi feita com perfume, na cabeça e não com lágrimas, nos pés. João dá-nos uma versão mista de duas narrativas: baseia-se no relato de Marcos, mas incorpora pormenores de Lucas. Por exemplo:

a) João diz que a mulher unge com perfume os pés de Jesus!

Naquele tempo, tal como hoje, tem todo o sentido perfumarmos o rosto e não os pés. João apresenta o seu relato por influência da pecadora de Lucas, que banha os pés de Jesus com as suas lágrimas.

b) João a seguir diz que após deitar o perfume, nos pés de Jesus, a mulher secou-o!

Não tem lógica secar o perfume que se acabou de colocar. É notória a influência do relato lucano, onde aí a mulher enxuga os pés de Jesus com os seus cabelos, após ter chorado sobre eles.

c) João apresenta a mulher de Betânia soltando os cabelos!

No tempo de Jesus, usar os cabelos soltos em público era conotado com mulheres levianas. Isto parece não combinar com a personagem virtuosa de Maria, irmã de Lázaro, que aparece no 4.º evangelho. Podemos concluir também que esse foi dos aspectos lucanos assumidos por João.


Mulheres que ungem Jesus nos Evangelhos


Mt 26, 6-13 Mc 14, 3-9 Lc 7, 36-50 Jo 12, 1-8


Tempo Dois dias antes da Paixão. Dois dias antes da Paixão. Início da vida pública. Seis dias antes da Paixão.


Lugar Betânia, casa de Simão. Betânia, casa de Simão. Uma cidade (Galileia). Betânia em casa de Marta e Lázaro (Judeia).


Quem Uma mulher. Uma mulher. Uma mulher. (*) Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro.


Acção Traz frasco de perfume. Traz frasco de perfume. Traz frasco de perfume. Traz frasco de perfume.


Perfume De alto preço De alto preço … De alto preço.


Unção Na cabeça. Na cabeça. Nos pés. Nos pés.

Outros gestos … Parte o frasco. Banha-os com lágrimas, enxuga-os com os cabelos, beija-os. Banha-os com lágrimas, enxuga-os com os cabelos, beija-os.

Reacção dos ouvintes Discípulos indignados… Dar aos pobres Alguns indignados… Dar aos pobres O fariseu: “Se esse homem fosse profeta… é uma pecadora” A casa encheu-se de perfume, Judas: “Porque não se vendeu?” Discípulos indignados… Dar aos pobres.

Comentário do evangelista … … Judas era Ladrão.

Reacção de Jesus Praticou uma boa acção. Preparou o meu sepulcro. Sempre dele falarão Praticou uma boa acção. Preparou a minha sepultura. Pobres sempre os tereis. Sempre falarão dela. Ser-lhe-ão perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou Praticou uma boa acção. Preparou a minha sepultura. Pobres sempre os tereis. Sempre falarão dela.

(*) Maria, cujo irmão Lázaro, caíra doente, era aquela que ungiu os pés de Jesus com perfumes e lhos enxugara com os seus cabelos. (Jo 11, 2).

(*) Constata-se que Maria Madalena não aparece em nenhum dos textos em que as diferentes mulheres são citadas nos evangelhos.

3. A questão dos sete demónios:

Lucas ao referir que de Maria Madalena tinha saído sete demónios, nada tem a ver com pecados, porque na mentalidade bíblica relacionavam as doenças com possessões demoníacas, pois deveria tratar-se de alguma doença que a impedia de ser livre e autónoma.

Notemos que Lucas introduz Madalena como parte do grupo de “algumas mulheres que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades” (Lc 8, 2). Não diz que eram mulheres “perdoadas dos seus pecados”. Portanto, ele quer apresentar um grupo de mulheres curadas e libertas por Jesus, entre as quais está uma especial, que fora liberta de sete demónios. Tendo em conta a simbologia do número sete, podemos identificar aqui a chave de leitura mais importante para sabermos quem é, na verdade, Maria Madalena?

Aqui está o primado dela em relação às outras discípulas que acompanhavam o Mestre: ela foi totalmente liberta por Jesus, tornando-se na discípula perfeita, ou seja, apaixonada pelo Mestre.

Conclui Lucas que “elas serviam Jesus e os discípulos com os seus bens”, indicando que eram de estratos sociais elevados, como por exemplo Joana, esposa do administrador de Herodes (Lc 8, 3), também tinham muitas posses para pagar os ensinamentos do seu mestre tal como era obrigação do discípulo, naquele tempo.

Madalena a primeira em tudo

Apesar da mentalidade machista da época e de na língua hebraica não haver o feminino das palavras “discípulo” e “mestre”, o NT apresenta mulheres discípulas que superam os discípulos no amor, no serviço e na fidelidade, precedendo-os até na fé. Curioso é em Act 9, 36 aparecer uma mulher de nome Tabitá, como o apelativo de “discípula”.

Madalena foi seguidora de Jesus desde o primeiro instante até ao fim, ou seja, desde a Galileia até Jerusalém (Mt 27, 55-56; Mc 15, 40); depois de encontrar o sepulcro aberto, foi a primeira a contar a Pedro e ao discípulo amado (Jo 20, 1-2); primeira a receber da boca do anjo a notícia da ressurreição (Mt 28, 5-6); primeira a ver o Ressuscitado (Jo 20, 13-18); curiosamente, depois da ascensão de Jesus, Maria Madalena desaparece do palco do NT.

Os 4 evangelhos identificam-na com a 1ª testemunha da ressurreição: Mt 27, 56-28,1; Mc 15, 40-16, 9; Lc 24, 10; Jo 19, 25-20, 18.

Ela torna-se embaixadora do primeiro anúncio (kerigma): Eu sei que Jesus está vivo, porque “vi o Senhor”! Este é o primeiro grito da manhã de Páscoa, para os discípulos de todos os tempos que fazem a experiência do Ressuscitado.

O objectivo da caminhada crente é deixar-se apaixonar pelo Mestre e Senhor Jesus. Madalena, tal como Pedro, Paulo, André e Lucas, apaixonaram-se por Jesus Cristo que os libertou totalmente.

Madalena não é de modo nenhum pecadora, mas uma mulher livre para servir e onde a gratidão é a única forma de revelar o tamanho amor que o Mestre depositou nela.

Pe. Paulo Borges



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