Jesus Cristo conversou muito com os seus discípulos acerca dos seus
sofrimentos, da sua Paixão e morte, e predisse os males que iria
suportar e a morte violenta que um dia os faria sofrer (Mt 16,21-26).
Foi por isso que, depois de lhes dizer coisas tão duras e tão difíceis,
tentou consolá-los evocando as recompensas que lhes daria quando viesse
na glória de seu Pai (v. 27). […] Quis mostrar-lhes com antecedência, na
medida em que eles eram capazes de o compreender nesta vida, a grande
majestade na qual estava para vir, impedindo assim a perturbação e a dor
que os seus apóstolos, especialmente Pedro, poderiam sentir perante a
sua morte. […]
«Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João.» Porque tomou apenas esses
três apóstolos? Provavelmente porque eles excediam os outros: São Pedro
por causa de seu entusiasmo e do seu amor; São João porque era o
discípulo que Jesus amava (Jo 13,23), e São Tiago, porque dissera, com
seu irmão: «Podemos [beber o teu cálice]» (Mt 20,22), e porque manteve a
sua palavra (Act 12,2). […]
Porque fez aparecer Moisés e Elias? […] Ele era constantemente acusado
de violar a Lei e de blasfemar, apropriando-Se de uma glória que não Lhe
pertencia, a glória do Pai.[…] Querendo pois mostrar que não violava a
Lei e que não Se atribuía uma glória que não Lhe pertencia, Jesus invoca
a autoridade das duas testemunhas mais irrepreensíveis: Moisés, que
dera a Lei […], e Elias, que fora abrasado de zelo pela glória e o
serviço de Deus (1Rs 19,10). […] Além disso, queria ensinar-lhes que era
o senhor da vida e da morte, trazendo à sua presença um homem que
estava morto e outro que tinha sido transportado vivo numa carruagem de
fogo (2Rs 2,11). E queria revelar aos seus discípulos a glória da sua
cruz, consolar Pedro e os companheiros, que se sentiam atemorizados pela
sua Paixão, aumentar-lhes a coragem. Com efeito, Moisés e Elias falavam
com Ele da glória que haveria de receber em Jerusalém (Lc 9,31), ou
seja, da sua Paixão e da sua cruz, que os profetas sempre tinham
apelidado de sua glória.
São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre o Evangelho de Mateus, n º 56; PG 58, 549
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