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EVANGELHO QUOTIDIANO

domingo, 8 de novembro de 2009

Para compreender o relato de Caim


O livro do Génesis (c.4) relata que Adão e Eva geraram dois filhos, Caim (agricultor) e Abel (pastor). Ambos eram muito religiosos, oferecendo a Deus os frutos do seu trabalho: Caim, os produtos do campo, Abel, as primeiras crias do rebanho. Mas... a Deus só agradava a oferenda de Abel, desconhecendo-se a razão da preferência e o modo como Caim tomou conhecimento dessa discriminação, só se sabendo da amargura de Caim pela atitude divina. Então, Deus dirigiu-se a Caim (Gn 4,7), mas este não quis escutar Deus e começou a alimentar o ódio contra o seu irmão Abel, até que um dia o convidou para ir até ao campo, onde o atacou e matou.
Após um diálogo com Deus (Gn 4,10-12), Caim tomou consciência do que fizera e lançou um grito de profunda dor (Gn 4,13-14). Deus comoveu-se com o seu pranto e prometeu vingá-lo sete vezes se alguém tentasse matá-lo, pondo-lhe um sinal de protecção e salvação para que quem o visse o reconhecesse e respeitasse. Caim saiu da terra que costumava cultivar e refugiou-se no deserto.


Ao ler este capítulo, deparamo-nos com um Caim desfigurado, diferente da imagem apresentada pela tradição, já que, por um lado, ele é menos mau e, por outro, não nos é dito que Abel fosse bom (repare-se que Abel tem um papel secundário nesta narração bíblica: não diz uma única palavra, só padece, Deus não lhe fala. A figura principal é Caim. Em hebraico, o nome Abel significa nulidade ou vazio, enquanto Caim quer dizer adquirir). O facto de Deus ter preferido as oferendas de um mais do que as do outro, não significa que um fosse bom e outro mau. Era um facto comum na antiguidade, onde o rei, faraó ou imperador podiam escolher as pessoas como bem entendessem, sem que isso significasse critérios de moralidade, injustiça, ou desprezo pelos outros.
Mas o que mais chama a atenção é uma série de contradições e pormenores incoerentes com a História e o resto do relato, dos quais exemplificamos apenas três:

1) Se Caim e Abel são filhos dos primeiros humanos (que habitaram a terra há milhões de anos e eram recolectores, ou seja, viviam da caça, pesca e da recolha dos frutos espontâneos do solo) como é que podiam conhecer a pastorícia e a agricultura que só surgiram em 10.000 a.C. e 8.000 a.C., respectivamente?

2) Depois do seu crime, Caim afirma que o primeiro a encontrá-lo o matará (Gn. 4, 14), mas quem poderia matá-lo se não existia mais ninguém a não ser Adão e Eva?

3) No v. 17 refere-se que "Caim concebeu e deu à luz Henoc". Onde é que ele arranjou mulher? Alguns chegaram a supor que se tratasse de Eva, a sua própria mãe, pois nessa época o incesto não estava proibido.

Hoje, os estudos bíblicos ensinam que a história de Caim apresenta estas incoerências, porque passou por três etapas sucessivas até acabar no relato do Génesis.
a. No início era um conto popular, transmitido oralmente e independente do relato de Adão e Eva, onde se narrava a história do herói Caim, fundador da tribo dos caimitas, vizinhos dos israelitas. A história incluía também o seu casamento, talvez com alguma das muitas jovens pertencentes aos clãs que então habitavam o deserto e o nascimento do seu filho Henoc. Esta história seria contada pelos próprios caimitas, orgulhosos do seu fundador Caim.

b. Quando esta história chegou aos ouvidos dos israelitas, estes modificaram-na em vários aspectos. Os caimitas viviam em pleno deserto, dedicando-se à pilhagem de outras tribos e, por isso, os israelitas consideraram que era um castigo de Deus por algum delito cometido pelo seu fundador. Não sabiam qual era o delito, mas como os caimitas assolavam permanentemente as colheitas das tribos suas irmãs de raça, imaginaram que fosse um delito contra o seu irmão. Além disso, esses beduínos eram famosos pelas terríveis vinganças que perpetravam contra quem matava um dos seus membros, daí a referência que aparece no v. 15 e também é possível que a dita tribo apresentasse exteriormente algum sinal ou tatuagem. Nesta segunda etapa, a tradição hebraica transformou o herói dos caimitas num fratricida castigado por Deus a viver uma vida errante.

c. Na época do rei Salomão, a história passou a uma terceira etapa. O lavrador expulso da terra cultivável e condenado a errar para sempre, prestava-se para aprofundar a explicação sobre a presença do mal no mundo. Com alguns retoques, a história foi colocada a seguir ao relato de Adão e Eva, apesar das incoerências daí resultantes. Nessa época já se colocavam questões angustiosas como as da existência do mal e o motivo do sofrimento. O autor bíblico respondeu com a história de Adão e Eva: porque o homem desobedeceu a Deus, ao comer o fruto proibido, preferiu a sua própria vontade à do Criador e cortou relações com Ele. Ao acrescentar a história de Caim, condenado a uma vida penosa e dura, por faltar contra o seu irmão, completou o seu ensino, dizendo que o mal cresce no mundo pelos delitos contra os outros homens.

Assim, trata-se do segundo pecado original. O relato de Adão e Eva (Gn 2 e 3) tinha quatro partes: ordem de Deus (não comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal; Gn2,17), desobediência do homem (comeu-o; Gn 3,6), castigo de Deus (Gn 3,14) e esperança de salvação (Deus fez a Adão e Eva túnicas de peles e vestiu-os; Gn 3,21). Também o relato de Caim e Abel apresenta as mesmas partes: ordem de Deus (se procederes bem..., se procederes mal...; Gn 4,7), desobediência do homem (Caim mata o irmão; Gn 4,8b), castigo de Deus ("serás amaldiçoado pela terra..."; Gn 4,11), esperança de salvação (o Senhor marcou-o com um sinal...; Gn 4,15b). Quer dizer, o autor pretende propor o mesmo tema que o relato de Adão e Eva: a origem do mal, mas agora com uma resposta diferente. No primeiro a explicação do mal no mundo dependia das relações do homem com Deus, no segundo depende da ruptura de relações com o irmão.

A lição de Caim é revolucionária para a sua época e pretende deixar claro que o crime contra o irmão é tão grave quanto o crime contra Deus.

(Adaptado de Ariel Álvarez Valdés, com tradução de Lopes Morgado, Revista Bíblica, nº 310)

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