Lectio Divina - Cireneu
Para preparação, meditação e
vivência da Semana Santa e Páscoa do Senhor
(documento adaptado de diversas fontes) Pe.
Vítor Medeiros
Pelo
Grupo Bíblico S. Miguel
Prepare um momento e lugar tranquilo.
Invoque o
Espírito santo para que abra a sua mente, coração e a sua boca para reconhecer
e proclamar Jesus de Nazaré, o servo de Deus, o Messias Crucificado e o
Salvador do Mundo.
Do Evangelho de S. Marcos 15, 21-22
Requisitaram,
para Lhe levar a cruz, um homem que passava, vindo do campo, Simão de Cirene,
pai de Alexandre e de Rufo. Conduziram Jesus ao lugar do Gólgota, que quer
dizer "Lugar do Crânio".
1- Leitura do Texto
(Lenta e
cuidadosa; para escutar o que Deus nos quer dizer; relacionar com o todo da Paixão
de Jesus; pode repetir a leitura; imagine-se presente no episódio, no mesmo
acontecimento; e se fosse nos dias de hoje, na sua freguesia ou cidade? Como
revejo o episódio? Como me sinto?)
2- Meditação
(procurar perceber o que Deus me
quer dizer através do texto. Não será outra leitura, mas uma escuta)
Estamos na
Semana Santa, a Semana Maior e central da nossa fé. Sou convidado a acompanhar
os passos de Cristo nos seus últimos dias (Narração da Paixão do Senhor Mc 14,
1 - 15,47).
O texto
apresentado é prova do estilo de S. Marcos: simples e sóbrio, sem adornos ou
coisas desnecessárias; e, nesta passagem, quase insensível, deixando todo o
sentimento para o leitor.
(ex: Conduziram Jesus ao lugar do Gólgota, que
quer dizer "Lugar do Crânio"- lugar, fora da cidade, segundo Heb
13, 12, que serviria para as execuções públicas).
O
leitor é desafiado a tomar uma posição, uma atitude: sigo-O ou deixo-O carregar
a cruz sozinho?
Simão de Cirene foi designado para levar a Cruz (cf. Mc 15, 21; Lc 23,
26), certamente não queria levá-la. Chamaram-no, forçaram-no. Teve de ser
obrigado. Quanto durou este constrangimento? Quanto tempo terá caminhado ao
lado de Jesus, fazendo sentir que nada tinha a ver com o condenado, com a sua
culpa, com a sua pena?
Porém, Marcos deixa entender que ele se tornou discípulo. A referência
exacta aos nomes, faz crer que Simão e os seus filhos deviam ser conhecidos em
alguma comunidade cristã primitiva. A tradição afirma que pertenciam à comunidade
dos cristãos de Roma (cf. Rm 16, 13). A importância do gesto fez com que o seu
nome (cireneu) passasse a designar uma obra de caridade, porque leva a carga de
outro.
Caminhava ao lado de Cristo sob o mesmo peso. Simão de Cirene, emprestava
a Jesus os seus ombros, sempre que os ombros do condenado pareciam vacilar.
Ele estava tão perto de Jesus! Eu queria estar perto de Jesus? Queria
estar no Lugar do Cireneu? Teria forças? Estaria também dividido? Quanto tempo
terá passado o Cireneu interiormente dividido, sem nada querer com aquele homem
condenado? Em que momento o seu coração se voltou para Deus? Em que olhar de
Jesus? O olhar de silenciosa gratidão?
Para muitos a ideia de precisar da ajuda de alguém, de um estranho, pode
ser humilhante. Porém, é uma realidade diária e constante. Faz parte da nossa
condição humana. E isto foi abraçado por Deus em Jesus. É
Deus a precisar de nós! É Deus a precisar que alguém o ajude a carregar a
cruz e a continuar o seu caminho! Ao ver Jesus caído ou a cambalear, terá
alguém gritado compadecido: “Alguém o ajude!” Jesus que disse que cada um
deveria tomar a sua cruz para O seguir, precisa agora de ajuda para levar a
Sua. Num mundo que proclama que cada um tome conta de si e que o ideal é não
precisar de ninguém, Jesus continua a contradizer-nos e diz: “não faz mal
precisar dos outros”. Em qualquer momento, pode acontecer uma doença, uma
urgência, um acidente, um sufoco por falta de trabalho ou de dinheiro… e, assim, experimentamos a obrigação de
carregar a cruz, quando a menos esperávamos; experimentamos a necessidade de
ajuda e recebemos uma ocasião de intimidade com Jesus, carregando a cruz, e com
os irmãos, no amor partilhado, no auxílio e alívio dos nossos fardos. Nem
sempre é fácil saber como ajudar, como dar e colocar a nossa vida ao serviço
dos que precisam de nós, mas não deve ser essa dificuldade que nos tornar
próximos uns dos outros! Pensamos por vezes ainda, “já temos as nossas cruzes,
não posso carregar a dos outros” e passamos ao lado, escondemo-nos; perdemos a
oportunidade de testemunhar e amar Jesus e os irmãos. Mas Jesus neste episódio,
da sua Paixão, prepara-nos para sermos Cireneus que ajudam a carregar a Cruz!
Não podemos esquecer que ao longo da nossa vida presenciamos tantas mãos prontas
a ajudar… Sou dessas mãos prontas para ajudar, servir, perdoar, abraçar,
consolar…? Por isso deixa, agora, Jesus perguntar: Levas, verdadeiramente, a
Cruz Comigo até ao fim?
3- Oração
(resposta a Deus; a minha vida; a minha história pessoal, a minha
situação neste momento conta; deixar que o nosso coração fale a Deus; momento
de exame de consciência, de desabafos e petições; é o diálogo com Deus)
Jesus
Possa eu aceitar ajuda sem
vergonha sempre que dela precise
E possa ficar ansioso por oferecê-la quando os outros
dela necessitem. Que a nossa dependência mútua seja uma fonte de alegria
E uma ocasião de graça,
Entretecendo-nos na comunidade do teu amor. Ámen.
4- Contemplação
(já não são necessárias
palavras; é o momento de fazer silêncio, de nos calarmos e adorar e louvar o
Senhor numa atitude de entrega)
Para terminar:
Recitação do Pai-Nosso
Fazendo o sinal da Cruz
diga:
O Senhor nos abençoe, nos livre
de todo o mal e nos conduza à vida eterna. Amém